Companhias de aviação desvalorizam 24% desde abril e colocam pressão sobre a avaliação da TAP, mas interesse dos maiores "players" europeus pode puxar pelo preço.
As companhias aéreas europeias perderam perto de um quarto do valor nos últimos quatro meses, com o aumento dos custos e a travagem do crescimento a penalizarem as perspetivas para o setor. A desvalorização, se não for revertida, pode baixar o encaixe do Estado na privatização da TAP. Há, no entanto, outros fatores que podem puxar pelo preço, como a forte concorrência esperada na corrida à aquisição da companhia portuguesa. Depois de frustrada a aquisição da Air Europa, o grupo IAG vai focar-se na TAP. A Lufthansa garante ao ECO que mantém o interesse, mesmo depois de ter fechado a aquisição de 41% da ITA.
“Durante o verão, o ambiente global para o preço dos bilhetes enfraqueceu. Isto aconteceu numa altura em que os encargos laborais, as taxas aeroportuárias e os custos de manutenção continuaram a aumentar. O impacto foi uma redução da expectativa para os resultados, o que levou a que o valor das companhias europeias tenha caído cerca de 20% desde maio”, afirma ao ECO Dudley Shanley, head of research da irlandesa Goodbody. “Isto sugere que a avaliação da TAP estará sob alguma pressão”, acrescenta.
“As avaliações para as companhias aéreas estão muito baixas, com um rácio entre o valor bolsista e os lucros em torno de cinco vezes e de cerca de 3 vezes face ao EBITDA”, assinala também Stephen Furlong, analista sénior da Davy Capital Markets. Com a economia europeia quase estagnada e as taxas de juro a pesarem no bolso dos consumidores, o verão não está a correr como esperado. As margens estão a encolher e companhias como a Ryanair ou a Lufthansa já vieram rever em baixa as perspetivas para o terceiro trimestre, o mais forte para o setor, com reflexo na bolsa. O índice Stoxx Europe Airlines desvaloriza 24% desde o máximo do ano em abril.
Para Neil Glynn, diretor da empresa de research independente Air Control Tower, “chegar a acordo para um preço de venda para a TAP pode ser difícil”. Um dos fatores que aponta é também que “as avaliações da indústria estão deprimidas a nível global, conferindo aos potenciais compradores menos poder de fogo para justificar o preço de aquisição”.
Caso este cenário não se altere, maximizar o encaixe da venda da TAP poderá ser uma tarefa mais difícil do que há alguns meses. O processo foi travado com o chumbo do Presidente da República ao decreto de reprivatização e a demissão do Executivo de António Costa, em novembro de 2023. O atual Governo vai avançar com a operação, mas não tem pressa. O presidente da companhia aérea, Luís Rodrigues, afirmou em julho que “o ministro [das Infraestruturas e Habitação] já tornou público que em setembro haveria novidades”. Miguel Pinto Luz disse que o processo está numa “fase de recato, de reavaliações, de definição de modelos” e será relançado em “momento oportuno”.
Há, no entanto, outros fatores que podem puxar pelo preço. “Já só existe um pequeno número de oportunidades de consolidação no setor na Europa e a TAP tem um interesse particular dada a sua posição no aeroporto de Lisboa. Isso irá sustentar a avaliação”, considera Dudley Shanley, da Goodbody.
O verão foi intenso, com a Lufthansa a receber luz verde da Comissão Europeia para adquirir 41% da ITA Airways, por 325 milhões de euros, e o grupo IAG a desistir da compra de 80% da Air Europa, por 400 milhões de euros, perante os pesados remédios impostos por Bruxelas.
Apesar do sucesso na aquisição da companhia italiana (a transação será concluída até ao final do ano), a vontade do grupo alemão em avaliar a compra da TAP não diminuiu. “Em geral, o Grupo Lufthansa procura sempre ter um papel ativo na consolidação do mercado. É por isso que a venda de uma participação na TAP é interessante para nós”, afirma ao ECO fonte oficial. “O Grupo Lufthansa e a TAP complementar-se-iam muito bem, especialmente com a rede de rotas da TAP de e para a América do Sul”, acrescenta.
A Air France – KLM, que está no processo de adquirir 19,9% da SAS, também não esconde o seu interesse na reprivatização. Na apresentação das contas do segundo trimestre, o CEO, Benjamin Smith, rejeitou que a quebra nos resultados e o “ambiente cada vez mais difícil para a aviação” diminuam o interesse da companhia aérea franco-neerlandesa na venda da TAP. “Do ponto de vista estratégico é interessante para nós“, reiterou.
Ainda assim, para Neil Glynn, o facto de os dois grupos estarem já envolvidos em processos de consolidação pode reduzir o apetite pela transportadora portuguesa. “A Air France – KLM e a Lufthansa adquiriram recentemente capital da ITA e SAS, respetivamente, e têm um trabalho significativo de reestruturação interna com maior impacto potencial para os resultados financeiros do que comprar a TAP”, considera o diretor da AIR Control Tower.
Stephen Furlong, da Davy Capital Markets, espera que ambas as companhias entrem na corrida. “A Lufthansa gostaria de crescer na América do Sul pelo que de certeza vão fazer uma oferta. A Air France – KLM também o vai fazer, muito provavelmente”, diz.
Frustrada a aquisição da Air Europa, o grupo IAG, dono de companhias como a British Airways e Iberia, deverá agora concentrar os esforços em Portugal, como foi apontado em vários jornais espanhóis. O CEO, Luís Galego, afirmou na apresentação dos resultados aos analistas que o grupo iria “analisar a atratividade da TAP”.
“Depois de desistir da compra da Air Europa, considero que a IAG continua muito interessada na aquisição da TAP. O grupo IAG espera poder usar a TAP para recriar em Madrid e Lisboa o modelo de hub dual que já tem em Londres e Dublin, com a aquisição da Aer Lingus”, aponta Dudley Shanley, da Goodbody.
Para Neil Glynn, o grupo IAG é, dos três, o mais bem posicionado para vencer a reprivatização. “A saúde financeira de cada empresa, os requisitos de reestruturação/transformação e os projetos de fusões e aquisições em curso sugerem que o IAG pode estar financeira e organizacionalmente melhor posicionado para adquirir a TAP, integrá-la com sucesso no grupo e posicionar a TAP para aumentar a capacidade e a rentabilidade”, afirma.
O diretor da Air Control Tower também desvaloriza os receios em Portugal sobre o impacto negativo que a aquisição pela dona da Iberia poderia ter no aeroporto de Lisboa. “O IAG teve sucesso na sua oferta para adquirir a Aer Lingus, apesar das relações históricas entre o Reino Unido e a Irlanda, e a Aer Lingus prosperou sob a propriedade do IAG”.
Quem também aposta numa vitória do IAG é o CEO da Ryanair. Para Michael O’Leary, o grupo com sede no Reino Unido é o mais bem posicionado para vencer a reprivatização, como afirmou em julho numa conferência de imprensa realizada em Lisboa.
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